O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma estratégia que utiliza diferentes métodos, isolados ou de forma conjunta, para controlar as principais pragas das culturas, escolhendo melhores técnicas de manejo que diminuam o impacto sobre os produtores, ambiente e a sociedade. O monitoramento de pragas e doenças é fundamental para um manejo adequado e evitar perdas na produção.

Para implementar um programa de MIP em sua fazenda, é necessário começar pelo básico: Identificação de pragas e seus inimigos naturais; amostragem da área (monitoramento) e conhecer os fatores abióticos do ambiente, como tipo de solo, precipitação, temperatura e umidade , etc.

É considerada praga agrícola qualquer espécie que atinja o nível de dano econômico para determinada cultura. Alguns insetos podem causar danos diretos, ou seja, se alimentam diretamente de parte da estrutura da planta (folhas, frutos, raízes), enquanto que, os danos indiretos são causados por alguns insetos que ao se alimentarem transmitem fitopatógenos (bactérias, fungos, vírus) que causam sérias doenças nas culturas de importância agrícola. Já os inimigos naturais ou agentes de controle biológico, são organismos (bactéria, fungo, vírus, insetos, aranhas, ácaros) que contribuem para a mortalidade natural do inseto praga no campo.

Mas eu devo realizar o monitoramento somente quando a praga aparecer no campo?

Não! O monitoramento da área deve ser realizado constantemente, utilizando técnicas adequadas para as principais pragas que atacam determinada cultura e para manejar as doenças associadas a insetos transmissores. O monitoramento pode ser realizado de diferentes formas, como inspeções no campo e uso de armadilhas, e a escolha do método de monitoramento vai depender muito das pragas de interesse.

A amostragem de insetos, por meio do monitoramento da área, é de grande importância para a tomada de decisão de medidas de controle. Para a adoção de métodos de controle, deve-se levar em consideração o nível de controle (NC) e o nível de dano econômico (NDE) de determinada praga. O NDE é quando a densidade populacional de determinada praga gera perdas maiores que o custo para controlá-la. Então, devemos adotar métodos de controle quando a praga chegar ao NC, para impedir que a população atinja o NDE e também porque algumas técnicas de controle levam um tempo para se tornarem eficazes. É importante destacar que o NC e NDE não serão os mesmos para diferentes pragas e culturas (como demonstrado na tabela 1 abaixo).

Para insetos transmissores de doenças, é importante ressaltar que o NC pode estar relacionado ao início do aparecimento do inseto vetor na cultura, devendo ser combatido imediatamente para evitar a contaminação e disseminação da doença. Porém, é difícil definir o nível de controle para os demais vetores, visto que, normalmente são adotadas medidas preventivas para evitar o aparecimento dessa praga, como é o caso da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) que transmite fitopatógenos que causam o enfezamento do milho, e do psilídeo-asiático-dos-citros (Diaphorina citri) que é inseto transmissor das bactérias causadoras do greening. A mosca-branca também é um inseto vetor, mas de diferentes viroses, que podem causar doenças em diferentes culturas, como a soja, tomate, feijão, dentre outros. Na cultura da soja, os principais percevejos que causam danos à cultura são: percevejo-verde (Nezara viridula), percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo-marrom (Euschistus heros). Nesta cultura, também são encontradas diversas lagartas desfolhadoras, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includes) e a lagarta-do-cartucho (Spodoptera spp.).

Tabela 1. Níveis de controle (NC) para as principais pragas da cultura da soja e do milho.

 

Tipos de Monitoramento

 

Pano de batida

O  pano de batida é o método mais empregado para coleta e o monitoramento dessas pragas, o qual consiste de um pano branco, com duas estruturas de madeira nas extremidades do tecido. O pano é aberto na linha da soja e as plantas são agitadas para que os insetos caiam sobre o pano, e assim realizar a identificação e contagem dos insetos. Para pragas que atacam a parte subterrânea da cultura, como corós e percevejo-castanho-da-raiz, é feita amostragem de solo de cerca de 30cm de profundidade na linha da soja. Quanto maior o número de amostras de solo, melhor será a amostragem da área e a detecção de pragas na lavoura. 

 

Inspeções diretas

Já na cultura do milho, o monitoramento da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) é feito através de inspeções diretas na planta, em no mínimo cinco pontos diferentes em cada talhão. Em cada ponto são inspecionadas 20 plantas, totalizando 100 plantas para cada talhão. Outra ferramenta bastante utilizada no monitoramento é o uso de armadilhas, método eficaz, fácil e com baixo custo para o produtor. Através desta, é possível fazer levantamentos das pragas e inimigos naturais presentes na área. Existem diferentes tipos de armadilhas que podem coletar diferentes espécies, de acordo com a biologia, ecologia e comportamento das mesmas.

Nesse caso, é muito comum o uso de atrativos em armadilhas, como feromônios, alimentos, substâncias líquidas, bem como o uso da luminosidade e cores que podem atrair os insetos. A diferença entre armadilhas com iscas é que estas irão atrair insetos específicos, enquanto que armadilhas sem iscas capturam insetos de forma geral.

 

Armadilhas luminosas

Capturam insetos voadores com hábito noturno e que possuem atração pela luz, principalmente mariposas. Mas também conseguem capturar outras espécies como alguns besouros, moscas e percevejos. Essas armadilhas são instaladas à noite e possuem uma luz que emite radiação ultravioleta para a atração dos insetos.

 

Armadilhas de queda

As armadilhas pitfall ou de queda são instaladas no solo, onde besouros e insetos que habitam e caminham pelo chão são capturados por cair diretamente no interior de um pote, onde são coletados e identificados posteriormente.

 

Armadilhas adesivas

Outra opção bastante empregada, são as armadilhas adesivas, que capturam insetos voadores e diminutos. Em forma de cartões, possuem quadrados (ex.: 2 cm x 2 cm), para facilitar a contagem e identificação dos indivíduos. Os insetos são atraídos pela cor utilizada e ficam presos através de um material pegajoso. As armadilhas geralmente são encontradas em duas cores: azul para a captura de tripes e amarelo para a coleta de insetos transmissores de doenças, como psilídeos, mosca-brancas, cigarrinhas, pulgões e além dos insetos vetores, também aprisionam pequenos besouros e mariposas.

 

Armadilhas com feromônio

Feromônios são substâncias químicas secretadas e liberadas para atrair organismos da mesma espécie. Por exemplo, feromônios sexuais atraem o sexo oposto para a cópula. São frequentemente usados na agricultura para atrair insetos específicos. A armadilha mais comumente utilizada é do tipo delta que contém feromônio sexual e possui substância aderente para a captura de mariposas, como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) na cultura do milho. Para outras espécies de importância agrícola também são utilizados feromônios sexuais, como para o percevejo-marrom (Euschistus heros) na cultura da soja. Para a coleta massal de insetos, utiliza-se feromônios de agregação que atraem os dois sexos (macho e fêmea), assim, captura-se um grande número de insetos, reduzindo a população da praga. Esse método é bastante utilizado para coleópteros, como para o bicudo-do-algodoeiro na cultura do Algodão.

 

Utilização de drones

Não se trata de uma armadilha, mas sim uma tecnologia mais avançada que vem sendo utilizada para o monitoramento de pragas e doenças em diferentes culturas. Essa tecnologia gera produção de fotos georreferenciadas das propriedades, resultando em um mapa do monitoramento, mostrando onde estão as zonas mais afetadas e infestadas, tornando o controle mais efetivo. Uma vez que suas imagens e dados auxiliam o produtor na verificação das condições gerais da lavoura, como localizar plantas daninhas, deficiência de nutrientes, e principalmente, na infestação de pragas.

 

Tomada de decisão

Os dados coletados através métodos de monitoramento citados acima são organizados, seja em planilhas ou em sistemas de gestão e controle, e quando a população do inseto-praga atingir o nível de controle (NC) você deverá escolher o método de controle a ser utilizado.

A tomada de decisão referente à qual tipo de método utilizar vai depender exclusivamente da cultura e da praga. No caso de percevejos na cultura do milho e soja, é necessário mesmo antes do plantio, o monitoramento da área, pois podem ter se estabelecido em culturas anteriores. O controle químico é muito utilizado nesta cultura, porém, é importante sempre identificar a praga corretamente, utilizar a dose recomendada pelo fabricante e realizar a aplicação adequada do inseticida, além de sempre rotacionar produtos com diferentes tipos de modo de ação, a fim de evitar populações resistentes a inseticidas.

Além disso, sempre que possível, preferir por produtos que sejam seletivos aos inimigos naturais. O controle biológico (utilização de parasitoides, predadores ou entomopatógenos) como ferramenta para o manejo de pragas, é um método eficaz que pode ser empregado na lavoura, como no caso da soja, existem diferentes agentes de controle biológico, como microrganismos como Baculovírus anticarsia para o controle da lagarta-da-soja e o Baculovírus spodoptera para o controle da lagarta-do-cartucho, e também, parasitoides como Telenomus podisi que parasita ovos de percevejo (preferencialmente do percevejo-marrom) e Trichogramma pretiosum que é um parasitoide abundante na cultura da soja, e parasita ovos de lepidópteros (borboletas e mariposas) que causam prejuízos à cultura, como a falsa-medideira, lagarta-da-soja, dentre outras. Na cultura do milho, espécies do parasitoide Trichogramma spp. também podem ser utilizados como ferramenta de controle. Um caso de sucesso de controle biológico no Brasil é na cana-de-açúcar para o controle da broca-da-cana com o uso do parasitoide larval Cotesia flavipes. Em relação a predadores, existem diferentes espécies que controlam populações de pragas, como tesourinhas, joaninhas, crisopídeos, entre outras espécies.

 

Conclusão

O monitoramento é base para as tomadas de decisões de manejo, através da detecção da entrada de pragas na cultura e também do aumento populacional de espécies de importância agrícola. Os métodos de coleta e amostragem vão depender das principais pragas que ocorrem na cultura, e é importante escolher corretamente para a detecção precoce do inseto. Com o monitoramento é possível determinar quais pragas estão presentes na área, e quando essas atingem o nível de controle, é possível entrar com ações de controle, como a utilização de inseticidas, o uso de agentes biológicos como parasitoides, predadores e microrganismos. O importante é sempre utilizar métodos de controle sinergicamente, como o emprego de inseticidas seletivos aos inimigos naturais, e também, utilizar as ferramentas de controle de forma adequada, respeitando a dose recomendada e utilizando inseticidas com diferentes modos de ação, para evitar a resistência das populações da praga, ressurgimento de pragas e também evitar surtos de pragas secundárias.

 

E você já faz o Manejo Integrado de Pragas (MIP) na sua fazenda?

Como tem controlado esses indicadores ao longo do tempo? Esse ano teve mais praga ou menos no seu talhão? Não sabe? Entre em contato conosco e conheça o nosso módulo de ‘Índice de Ocorrências’ capaz de lhe auxiliar nessa missão!

Sobre o autor

Júlia Aleixo

Doutoranda em Entomologia pela ESALQ/USP. Júlia é formada em Ciências Biológicas e possui mestrado em Fitossanidade.

Texto revisado e adaptado por Eduardo Rezende.

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