Fonte: 7ª Pesquisa Hábitos do Produtor Rural (ABMRA)
Esse estudo também constatou que 81% dos produtores possuem dedicação exclusiva no negócio, não exercendo outras atividades profissionais. Surpreendentemente,
somente 18% dos produtores tem curso superior (embora essa média esteja próxima da população brasileira acima de 18 anos). Mais da metade dos produtores rurais possui residência apenas no campo 56%. Este número é ainda maior se tratando de pecuaristas e evoluiu consideravelmente em relação à última pesquisa (sobreturo dos que vivem somente no campo – de 47% em 2013 para 56% em 2017). Ainda, 68% dos produtores rurais são otimistas com relação a atividade agropecuária, entretanto, alguns desafios ainda fazem o produtor ''perder o sono'', em ordem de importância podemos citar: Clima (24%), Pragas/Doenças (11%) e Mão de obra (7%).
O novo e o antigo perfil
Jovens que sequer buscavam oportunidades no campo, passaram a se sentir atraídos pelo setor. O surgimento de novas tecnologias que atendem necessidades e otimizam a realização das atividades rurais certamente é um dos motivos. A análise é de que jovens no campo trazem um novo olhar aos processos e tecnologias a serem aplicadas no campo.
As empresas de tecnologia especializadas em atender o agronegócio, muitas delas com soluções disruptivas, são comumente chamadas de AgTechs (startups de tecnologia focadas no primeiro setor). Muitas vezes, por meio de softwares e aplicativos (conectados ou não, às máquinas, hardwares e sensores embarcados) que fazem o monitoramento e controle total das atividades produtivas em uma propriedade, trazendo consequentemente em maior eficiência operacional, aumento da produtividade e da rentabilidade do negócio.
É possível notar que a tecnologia digital chegou com força ao agronegócio e aumentou as possibilidades para os jovens no campo. Isso significa que, além de colocar os pés na terra e realizar o trabalho operacional (não somente do trabalho ‘braçal’ do passado) essa nova geração de profissionais, agora também podem ser gestores de dados e técnicos em informática que conduzem as informações à sua disposição para melhorar a atividade da família e tomar a melhor decisão, sempre embasada em dados.
Podemos dizer que esses novos profissionais atuam como ‘Evangelizadores’ de tecnologia e de melhores práticas ao campo e cumprem um papel muito importante no quesito ‘transformação digital’ dessas propriedades, para o que chamamos de Agricultura 4.0.
E ao contrário de um “choque de gerações” negativo, como poderia se imaginar, a geração mais nova ensina a mais velha a olhar de forma diferente para o campo, mostrando os resultados na prática, enquanto os mais velhos disponibilizam seu vasto know how e experiência prática, uma combinação perfeita para que essas tecnologias sejam utilizadas/implementadas da melhor maneira possível e também melhoradas continuamente.
Fonte: Elaborado por Agrosolutions. Uma fotografia atual do campo: o novo e o antigo perfil.
Isso não significa que o processo de adoção de novas práticas, bem como da receptividade por parte dos atuais proprietários seja fácil, muitos ainda não estão preparados ou seguros o suficiente dos benefícios em se modernizar. Outro ponto que pesa nessa equação é o embate de que o conhecimento prático é o que importa, sustentado pelo fato de que ainda hoje, poucos são os produtores rurais que possuem algum curso superior ou especialização.
A famosa frase: “Sempre fiz assim e deu certo” ainda ecoa em alguns rincões do país.
As portas, ou melhor, as porteiras de entrada
Muitos são os gatilhos que podem despertar os interesses dos jovens pelo campo, dentre os quais podemos citar:
- Herança e/ou Processo de sucessão familiar (os quais será discutido em maiores detalhes em um outro artigo);
- Vontade de se tornar um produtor rural, potencializada pela fama do Brasil de “celeiro do mundo”, devido ao seu clima propício e vastas terras agricultáveis;
- Procura por cursos profissionalizantes (e/ou empregos) nos setores de agronomia, veterinária, zootecnia, engenheiro de produção agrícola, direito agropecuário, administração agrícola, contabilidade rural, etc.
- Desejo de implantar a agricultura digital em uma propriedade (transformação digital);
- Participação em congressos, seminários e/ou feiras agropecuárias;
- Vontade de trabalhar com tecnologia aplicada ao agronegócio, em uma multinacional em áreas (squads) especializadas focadas no digital, inovação aberta ou mesmo trabalhar em uma startup de AgTech;
- Vontade de empreender na área de tecnologia voltada ao Agronegócio, oferecendo novas soluções inovadoras ou trabalhando para uma AgTech. Nesse caso, diversos são os programas/editais (públicos ou privados), aceleradoras e incubadoras específicas para o setor;
A perpetuidade e o processo de sucessão
O primeiro fator ‘’motivacional’’ listado acima, merece um capítulo a parte, pois quando uma geração mais nova começa assumir o controle das fazendas, não é só eles e seus conhecimentos que vem para somar e "chacoalhar" as propriedades, mas todo
um novo mindset, mais dinâmico e aberto a mudanças e que consequentemente - os "novos formadores de opinião" - tendem a impulsionar toda a cadeia, desde novos colaboradores com pensamento semelhante à novos tipos de parceiros e fornecedores.
Podemos perceber ainda um maior amadurecimento e estruturação no
processo de sucessão familiar do agronegócio nos últimos anos, seja por parte dos atuais gestores e/ou proprietários.
Ao tratar o negócio rural como uma empresa, uma das saídas pensadas é buscar inclusive um profissional especializado no mercado e manter os sucessores no ‘conselho’ da empresa. O plano de sucessão na agropecuária não é muito diferente do processo existente nas grandes empresas.
O processo de sucessão é complexo e não é incomum que alguma das partes se sinta ‘injustiçada’, ainda mais quando existem várias pessoas envolvidas no processo. Muitas vezes há insegurança ou real interesse do sucessor em passar o controle adiante ou os sucessores não estão (ou não se sentem preparados) para assumir o negócio e todas suas responsabilidades.
O novo perfil do produtor
É importante salientar que gerir uma fazenda hoje em dia, tal como uma empresa que almeja eficiência operacional, é ainda mais difícil e complexo do que era décadas atrás.
Podemos citar o enrijecimento de exigências legais, fiscais, trabalhistas, certificações de qualidade, obtenção de licenças, preocupação com a segurança alimentar e a rastreabilidade da produção, consumidores mais conscientes e exigentes, margens cada vez mais estreitas (fazer mais com menos), complexo sistema de logística de transporte para escoamento da produção, conciliar rentabilidade com sustentabilidade, instrumentos de mitigação de riscos (seguros, hedges) são algumas das preocupações do empresário rural.
Além claro, dos avanços tecnológicos tais como máquinas inteligentes, tratores semiautomáticos operados por GPS, drones para análise de falhas e indícios vegetativos, sistema de gestão financeira e estoque, dentre outras.
Tecnologia. Sustentabilidade. Performance. Gestão operacional e financeira. Agricultura digital. Análise estratégica de informações.
São algumas das palavras do momento. Por isso, mais do que nunca, é imprescindível que esse profissional seja multidisciplinar com conhecimento em várias áreas, empresas e processos que permeiam a atividade. Todas essas “novas demandas” exigem um novo tipo de profissional, com
novos skills, os quais podemos destacar:
- Mais dinâmico e multidisciplinar;
- Analítico e com visão estratégica;
- Boa noção de marketing e vendas;
- Orientado a resultados;
- Conhecimento das práticas da Agricultura 4.0 e agricultura de precisão;
- Networking ativo com toda a cadeia do agro (identificação de novas oportunidades e sinergias entre as áreas).
Além do foco em eficiência e resultado (fazer mais com menos), esses profissionais tem que lidar com a complexidade de operar muitas soluções separadas e integrá-las para que se “conversem” e sejam analisadas em conjunto, atuando como um integrador de soluções.
Como é sabido, mão de obra qualificada é um grande problema no Brasil, agravada pelo fato de que estamos lidando com novas metodologias e tecnologias, muitas delas recém-criadas e disponibilizadas no mercado. Por isso, muitas fazendas estão recrutando esses profissionais nas melhores faculdades (dentro e fora do país), ou ainda “formando” esses profissionais para atuarem como seus sucessores, e isso tem contribuído substancialmente para o retorno de “uma nova safra” de profissionais, mais preparados e capacitados.
E é justamente isso que tem contribuído para o retorno de “uma nova safra” de profissionais que foram se preparar nas melhores universidades e experiências profissionais, dentro ou fora do país.
Seja por vocação ou necessidade, a agricultura digital (ou Agro 4.0) é tida como um caminho sem volta para as fazendas se manterem competitivas nos próximos anos, e abre espaço para perpetuação dos negócios.
Algumas das novas oportunidades
Diante desse cenário complexo, mas também promissor, surgem novas oportunidades de negócio para que as
fazendas empresas agropecuárias, possam se destacar e serem ainda mais rentáveis e produtivas:
- Praticar a eficiência operacional na sua propriedade – ex: aumento da produtividade por hectare, aumentar a lucratividade (diminuir custos e aumentar a margem de vendas) por meio de um processo/sistema que permita a mensuração desses resultados e sua melhoria-contínua (revisão dos gargalos e pontos fracos)
- Novas técnicas para melhor aproveitamento da área, conservação do solo e – ex: escolha da melhor semente/cultivar para cada propriedade, rotação de culturas e os sistemas de integração, para saber mais sobre esse assunto preparamos o artigo específico "ILFP: Integração Lavoura Pecuária Floresta".
- Aplicação de técnicas de Agricultura de precisão para aumento da produtividade e otimização do uso de insumos (monitoramento de pragas e doenças, análise de solo e índices vegetativos combinados a aplicações localizadas e com taxa variável)
- Aproveitamento da interconexão e sinergia entre diferentes atividades para melhor aproveitamento de recursos empregados (ou resultantes) de uma atividade em outra - ex: utilização dos dejetos de granjas (suíno ou frango) ou provenientes de um confinamento de gado em um biodigestor, resultando em adubo para re-aplicação nas lavouras (biofertilizantes/chorume) ou mesmo produção de energia a partir de biogases gerados no processo, resultam em uma fazenda ainda mais sustentável e ecologicamente correta.
- Focar na diferenciação do negócio frente a concorrência – ex: obtenção de certificações de qualidade e melhores práticas, agroecologia, tratamento mais humano aos funcionários, etc.
- Novo posicionamento de produto, com maior percepção de qualidade e valor agregado por parte dos consumidores – ex: nicho de produtos gourmet ou de alta gastronomia (queijo artesanal, café especial, produtos orgânicos)
- Verticalização da produção, esse processo é bastante interessante e tem sido muito utilizado pelas grandes propriedades, ele permite eliminar alguns intermediários da cadeia, melhorando as margens do negócio e permitindo uma maior transparência e comunicação direta com o(s) cliente(s) – Ex.: abrir uma transportadora e/ou armazém próprio para o seu negócio (e eventualmente prestar serviços para terceiros), criar uma marca própria, abrir um novo canal de venda do seu produto (e-commerce, marketplace, loja física, franquia, etc.)
Para saber mais
Cursos:
- Fundação Instituto de Administração (FIA): MBA Gestão Estratégica em Agronegócios ou
Extensão em agronegócios
- FGV: MBA Executivo em Economia e Gestão: Agronegócio
- CNA Jovem: iniciativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA, que por meio de capacitações do SENAR, oferece um
curso a distância voltado para brasileiros com espírito de liderança, com idade entre 22 e 30 anos, formação técnica ou superior, e relação direta com o setor rural.
Um evento que acompanha o movimento:
O evento da
Yami (Youth Agribusiness Movement International), vai para a sua segunda edição em outubro deste ano e traz a bandeira dos jovens no agro, não como futuro, mas o presente no setor.
Lideranças jovem:
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SRB (Sociedade Rural Brasileira):
Encontro Rural Jovem - evento anual da realizado em parceria com a ABCZ
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@jovensDoAgro (página no Instagram)
